sexta-feira, 10 de abril de 2020

Medo

Meu medo é vento no deserto, que passa correndo pelo vazio;

Água no mar, revolve e desgasta as esperanças de encontrar uma ilha.

O medo de um pássaro procurando a flor.

Viu tudo quebrado;

Lobo desajeitado não sabe lidar com as horas.

Meu medo teme as horas.

À frente, um precipício e atrás... 

Meu medo dói, quando olha para trás.

O vazio dos cântaros, as náuseas do coração;

Meu medo enjoa, faz greve de fome.

E se fortalece das próprias fraquezas;

Zumbi do absurdo, nocauteia os últimos dias, dos dias intermináveis dele mesmo.

Perde os passaportes, de propósito, paralisa;

Fica, por já fazer parte do que é, de quem é.

Meu medo tem medo de si,

De partir, do que há por vir;

De virar a página e vê-la em branco.

Sabe desenhar como ninguém;

Mas está cansado de fazer mãos abertas;

É porque elas nunca saem do papel.

Então, meu medo viu que não adianta;

As mãos mentem sempre, ilusionistas.

Com pautas vazias, meu medo ensaia o rafe de uma mão vazia sorrindo,

Mas, no fundo, ele acha que mãos vazias não sorriem de verdade.

Então, mudo, se queda pensando.





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