sexta-feira, 10 de abril de 2020

Balbuciar dos Anjos

É a palavra que me salva dos desfiladeiros. 
Palavra camomila, saída das xícaras; 
Colo de ninar, cadeira de balanço ao luar.
Palavra muda, que sai dos olhos e planta flores na gente.
Palavras que a gente sente.
Palavras também me sobem pelo interior das pernas.
De fato, dois alfabetos inteiros: um de cada lado.
Eles arrepiam, abalam, amansam e nunca se cansam. 
Palavras nascem na magia do divino. 
Deus, verbo. 
Verbo, ação;
Transmuta energia em palavras partículas. 
Partícula surgida no vácuo, no Campo de Higgs.
Gosto de estudar a Ciência Física da palavra.
De entender as origens das minhas vertigens.
Observei que palavra se comporta como onda, quanticamente; 
De maneira diferente. 
Depende de quem observa e entende.
Está na rua, quando a mulher para, e ouve o menino da calçada.
No seio da mãe, feliz e angustiada. 
No céu da boca da criança, nascem palavras estrelas; 
Balbuciar na lingua dos anjos.
Letras também se juntam pra dilacerar, desmembrar. 
Palavras podem amputar. 
Palavra é faca, revólver, bastão. 
Não deveria ser usada por quem não tem aulas de direção. 
Palavra necessita de certas habilidades, de habilitação.
Tinha que ter curso de palavrear. 
Palavra se cultua, colore, cultiva em campos de mutirão. 
Palavra é co-labore.
Coisa séria.
Palavra nunca é miséria.
Palavra é plenitude.
Tudo pode
É ela que sempre me acode.

Nenhum comentário:

Postar um comentário