sexta-feira, 10 de abril de 2020

A-Deus

Vou dizer adeus, antes da tua chegada.
Partirei deste ponto de espera, para que nunca mais me vejas, nunca mais.
Todos os campos hão de esperar por nós, solitários.
Nossos verdes serão estéreis.
As paisagens vão suplicar, curiosas, por nossos encontros.
Nunca existirão em beleza ímpar, pela nossa ausência.
A chuva há de tocar tudo na cidade, menos o nosso beijo.
As salas de cinema hão de aguardar, no escuro, a mais doce censura.
Os cafés não vão ouvir nossas frases, nem nossos risos, nas tardes de domingo.
E, nas estações, os trens vão ficar parados.
No extraordinário, sempre faltará uma letra ou duas.
Condeno o magnifico à dúvida da existência porque dele só teremos uma projeção.
Nunca nossos olhos, ansiosos, se visitarão, novamente.
Só o silêncio será capaz de me trazer pra perto porque minha voz vai estar presa nos versos que te dediquei.
Serão apenas memórias.
O mirante Dona Marta, o Castelo de São Jorge e Sintra existirão sem nossas notícias.
Os sons que imaginamos permanecerão mudos.
E ficará tudo, em sono profundo, no fundo de uma gaveta.
Poeira a mastigar o que fica parado.
Vou saciá-la com papel porque meu corpo ainda vive.

Nenhum comentário:

Postar um comentário