
Tenho nas mãos o conjunto inusitado da minha massa atômica;
Percorri, descalça, as ruas do mundo;
Enfeitei a alma com imagens, lembranças;
Vi luzes diferentes;
Onze da noite, em pleno sol;
Quando a certeza britânica do entardecer me abandonou, percebi que o céu brilhava, mas era noite;
Ou era dia, em plena noite, e eu ali;
Minha primeira Europa, acompanhada.
Será?
Na efervescência dos momentos, meu corpo era uma esponja;
Largada, no meio do oceano;
Boiando frívola, inflada, tonta de estímulos;
Tentava conter água do mundo na minha matéria miúda;
Liberar espaços entre as falhas da espuma, para então ser inundada;
Tinha nas mãos o conjunto inusitado e confuso da minha massa atômica;
Via nas ruas, mais que ruas;
Nas pessoas, mais do que rostos;
E tudo à volta borbulhava, no fogo das minhas idéias;
E eu ali, descalça, inchada, tonta, ardendo;
Tirei as roupas, colori a pele;
Cacique da minha tribo, em silêncio, comandei expedições, mundo afora;
Cinco países, muitas fronteiras;
Minhas divisas, meus limites;
Foram todos postos à prova, em cada momento que eu tentava traduzir;
Em cada suspiro de cansaço exaltado;
Em cada noite mal dormida;
Em cada hormônio alterado;
Ou conversa truncada.
E eu ali, descalça, inchada, tonta, ardendo, nua;
Sem saber se era noite, se era dia;
Indígena, esponja humana;
Tinha nas mãos o conjunto inusitado e confuso da minha massa atômica;
Nada era descaso, nada passava em branco;
Contemplei o feio e o belo, com a generosidade de um estrangeiro que a tudo quer provar;
Porque se eu queria conhecer mais do mundo, de verdade, já deveria saber que nele, há de tudo, como aqui;
Percebi que a indelicadeza do povo estranho é estranha ao meu povo, sempre hospitaleiro;
Tão estranha que deixo aqui um solo de castanholas;
Ouçam!!!!
Em Paris, a gente fica mais bonita;
Em Lisboa, volta pra infância;
Ó “menina”!!!!
Os canais de Amsterdã mostraram que água me faz bem às vistas;
Quando, pela última vez, a certeza britânica do entardecer me abandonou, percebi que o céu brilhava, mas era noite;
Eu, de volta, sem certezas.
A noite insistiu.
O brilho do ouro, a torre, tudo escondido, no breu das minhas decepções;
Ainda tinha nas mãos o conjunto inusitado e confuso da minha massa atômica;
Com os trópicos aquecidos pelo calor da minha gente,
Entendi o sorriso da Mona Lisa;
Que a todos convida à coragem de encarar o vazio do escuro à procura de respostas;
Meu sorriso de Mona Lisa é uma viagem além mar, interestelar, interplanetária, interpessoal;
Um mergulho, uma aprendizagem;
Deslumbres, cansaços, inchaços, fraquezas, prazeres, desilusões;
Entendi perfeitamente porque aquele sorriso sem dentes, tão econômico
Havia rendido tanta contemplação.
E, “ulalá”!!!!
Sorrio como ela, assim, sem muito escândalo.