quarta-feira, 16 de março de 2011

Fonte


Gosto de passar perfume à noite,

Depois, perco o cheiro no ar;

Perco.

Adoro ver a chuva escorrer pela janela;

Ganho.

Tô sempre com sede, 

Quase nunca, bebo água; reservo;

Meu pior defeito: a sede;

Meu melhor efeito: o último gole.

Exposição absurda desse ciclo motor.

Que seca e alaga.

Busca incessante, 

Ergue meu lado Golias,

Gosto de vê-lo crescer, crer;

Gosto de vê-lo cair;

Porque ele levanta David!

Fonte do meu exorcizar,

Faz catarata face, doce e sal;

A queda apronta meu ânimo;

Cresço.

Aí, fico surda de tanto pensar;

Minha cabeça é só barulho;

Tem sempre alguém, aqui dentro, de botas ou de salto, pulando;

Tem sempre um cheiro, um sinal, uma história, uma idéia, uma, um;

Tem sempre movimento;

Plenitude? Desconheço;

Não sei ficar parada,

Só sei morrer, de olhos abertos;

É essa sede que não acaba nunca...

Sou feita do “não cessar”;

Do incessante hábito da insatisfação, talvez;

Que brota no sertão das fantasias.

E germina em caravanas verdades.

Sou da espécie que sobrevive “apesar”;

Dos leões e das abelhas,

Dos lobos e dos gatos;

Sou carioca da gota, o lençol, de antes dos meus pés.

Abaixo das ranhuras da terra, que acumula, expande,

Vence em cachoeira.

É...seco, na superfície, pra despencar, por dentro;

Sem ninguém ver.

Caio, em Tejo;

Corro, em Thames;

Sonho, em Sena;

Viajo, em Nilo;

E, quando a seca me carrega em nuvens,

Sou toda entrega, de novo.

Toda, toda.

Para uma nova jornada. 

De altos, baixos e abaixos.

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