Gosto de passar perfume à noite,
Depois, perco o cheiro no ar;
Perco.
Adoro ver a chuva escorrer pela janela;
Ganho.
Tô sempre com sede,
Quase nunca, bebo água; reservo;
Meu pior defeito: a sede;
Meu melhor efeito: o último gole.
Exposição absurda desse ciclo motor.
Que seca e alaga.
Busca incessante,
Ergue meu lado Golias,
Gosto de vê-lo crescer, crer;
Gosto de vê-lo cair;
Porque ele levanta David!
Fonte do meu exorcizar,
Faz catarata face, doce e sal;
A queda apronta meu ânimo;
Cresço.
Aí, fico surda de tanto pensar;
Minha cabeça é só barulho;
Tem sempre alguém, aqui dentro, de botas ou de salto, pulando;
Tem sempre um cheiro, um sinal, uma história, uma idéia, uma, um;
Tem sempre movimento;
Plenitude? Desconheço;
Não sei ficar parada,
Só sei morrer, de olhos abertos;
É essa sede que não acaba nunca...
Sou feita do “não cessar”;
Do incessante hábito da insatisfação, talvez;
Que brota no sertão das fantasias.
E germina em caravanas verdades.
Sou da espécie que sobrevive “apesar”;
Dos leões e das abelhas,
Dos lobos e dos gatos;
Sou carioca da gota, o lençol, de antes dos meus pés.
Abaixo das ranhuras da terra, que acumula, expande,
Vence em cachoeira.
É...seco, na superfície, pra despencar, por dentro;
Sem ninguém ver.
Caio, em Tejo;
Corro, em Thames;
Sonho, em Sena;
Viajo, em Nilo;
E, quando a seca me carrega em nuvens,
Sou toda entrega, de novo.
Toda, toda.
Para uma nova jornada.
De altos, baixos e abaixos.
Que poesia linda Dani...Parabéns
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