Meu medo é vento no deserto, que passa correndo pelo vazio;
Água no mar, revolve e desgasta as esperanças de encontrar uma ilha.
O medo de um pássaro procurando a flor.
Viu tudo quebrado;
Lobo desajeitado não sabe lidar com as horas.
Meu medo teme as horas.
À frente, um precipício e atrás...
Meu medo dói, quando olha para trás.
O vazio dos cântaros, as náuseas do coração;
Meu medo enjoa, faz greve de fome.
E se fortalece das próprias fraquezas;
Zumbi do absurdo, nocauteia os últimos dias, dos dias intermináveis dele mesmo.
Perde os passaportes, de propósito, paralisa;
Fica, por já fazer parte do que é, de quem é.
Meu medo tem medo de si,
De partir, do que há por vir;
De virar a página e vê-la em branco.
Sabe desenhar como ninguém;
Mas está cansado de fazer mãos abertas;
É porque elas nunca saem do papel.
Então, meu medo viu que não adianta;
As mãos mentem sempre, ilusionistas.
Com pautas vazias, meu medo ensaia o rafe de uma mão vazia sorrindo,
Mas, no fundo, ele acha que mãos vazias não sorriem de verdade.
Então, mudo, se queda pensando.